terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Som Da Cidade


Produzir som vai além da vontade humana, trata-se de algo tão natural quanto o viver. Sons despertam o sentimento que queremos nesse instante ou nos fazem reviver outrora. Sons da infância são os que mais marcam e fazem com que o levemos para o reto de nossas vidas.
Até mesmo o caótico barulho do meio urbano faz agente se sentir integrado aquele meio, como se fosse um pertencente ao outro. Por acharmos e fazermos essa ligação entre som e cidade não treinamos nossa audição para o mais simples ruído, o mais breve som produzido pela natureza. Estar entre a urbanização nos torna surdos, viver num emaranhado de concreto isola não somente os ambientes, como também a nossa mente, o nosso pensar.
Entre os ruídos urbanos, destacam-se os sons produzidos em diferentes meios, causa impacto ou nostalgia aos seus meros ouvintes mortais [dependendo de sua criação cultural] que vivem embalados pela música e esquecem-se do som. Na feira livre a infância e revivida, as lembranças afloradas, os avós ressuscitados.
O vendedor chamando o freguês, os meninos dos ‘carregos’ pelo caminho,a machadinha trincando o tronco de arvore depois de decepar a carne ainda quente que há pouco estava no matadouro, viva. Os clientes pechinchando e o sol a pino fazendo todos circularem numa orquestra tão bem regida que, se não fosse o sentimento de saudades, tornaríamos esse momento eterno. Mas a saudade destruidora que é, acaba com qualquer eternidade e prova que evoluímos, que o caos, muitas vezes ordenado, é benéfico. A saudade prova a vida cíclica. A bagunça jeitosinha da feira livre bate de frente com o som urbano, como dois meios distintos que se repelem, mas se tocam, se misturam, cada um com sua essência, sem mágoas.
A desordem que vai de encontro com o andar, com o movimento, em desfavor do tempo e a correr tão ardentemente quanto o suor que escorre no rosto de todos, da feira.

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